Programa
São múltiplas as dimensões que assume a globalização actualmente em curso.
É difícil separá-las de tão intrincadas que estão. É difícil encontrar
um denominador comum que permita a sua visão global. Todavia, são já visíveis
os seus efeitos ao nível da vida de milhões de cidadãos por todo o mundo.
Ainda que timidamente, as reacções individuais e colectivas vão surgindo.
Há que aprofundar o debate e o conhecimento. É necessário agir. É urgente
estabelecer uma contra-corrente esclarecida.
Procurar um fio condutor que permita uma visão de conjunto sem perder
a especificidade das partes, mais ligadas a aspectos concretos, deve ser
o suporte de uma acção sustentada. Por isso, é necessário pôr em contacto
os investigadores e os actores sociais envolvidos em movimentos e organizações
sociais. Promover o debate e o confronto. Procurar esclarecer, para melhor
agir.
Este Forum tem esse objectivo. Nele serão abordados temas relativos à
agro-indústria, à economia e suas relações com os poderes políticos e
de regulação, aos aspectos culturais, à globalização das resistências
e aos trabalhadores.
Eis os principais contornos do que se pretende debater em cada uma destas
áreas:
- Na segunda metade do século XX, a agricultura foi substituída pela indústria
agro-alimentar. A produção, a industrialização e a distribuição de alimentos
têm-se concentrado aceleradamente em algumas empresas. A organização do
comércio mundial é a expressão do domínio económico dos E.U.A. nesta área.
Assim, é importante questionar os aspectos da segurança alimentar, da
independência dos países, da cultura e aculturação do consumo e dos modelos
de desenvolvimento.
- Ao nível económico e das relações com o poder político, o fenómeno actual
encontra paralelo em outros contextos sociohistóricos: há que identificar
as permanências e as distinções. A globalização económica capitalista
tem uma expressão clara ao nível do desenvolvimento, da apropriação desigual
da tecnologia, da concentração na produção e nos mercados e da mobilidade
espacial de capitais, empresas e pessoas: há que conhecer os seus agentes
nacionais e internacionais e as suas relações de poder. A vertente política da
globalização tem vindo a assumir visibilidade através da acção de organizações
nacionais e internacionais de regulação, imposição e legitimação do processo.
Mas económico e político estão cada vez mais associados: há que conhecer quem
são os patrões-dos-patrões e avaliar as implicações da sua acção para
o desenvolvimento dos povos.
- A cultura de hoje é cada vez mais uma cultura de capitais e de capitais
da cultura. Empresas multinacionais moldam-nos o gosto e a mente com novos
produtos estandardizados pelas indústrias culturais. Vamos ficando cada
vez mais desarmados para assumirmos a nossa identidade! Uma identidade
não alienada, mas que tenha a dimensão da satisfação das nossas necessidades,
do nosso prazer. Onde estão os cineclubes que se oponham à massificação
de hollywood ? E as associações culturais locais e regionais - gastronómicas,
musicais, linguísticas e de todo o tipo - que se confrontem com a padronização
do consumo da cultura. Há que promover a diversidade cultural contra a
padronização dos consumos, reinventar a criatividade e a participação:
uma cultura construída a partir das pessoas e para as pessoas, particularmente
das socialmente marginalizadas; uma cultura de intercâmbio entre povos
e pessoas.
- A globalização concentra hoje os vários poderes nas mãos de uns tantos.
Ela submete os povos e os países periféricos, do mesmo modo que marginaliza
largas camadas da população dos países dominadores do centro.
Resistir é preciso! Mas como articular e globalizar as resistências que
actuam dentro e fora do sistema contra a globalização dominante, nos domínios
do económico, do político, das relações capital/trabalho, do ambiente,
do consumo, da informação, da sexualidade e da cultura? E, ainda, qual
o papel dos nacionalismos no combate à globalização?
24 de Fevereiro de 2000
Organização :
Abril em Maio, Associação dos Amigos do "Monde Diplomatique-edição
portuguesa", Attac - Plataforma Portuguesa, Base
FUT, Chapitô - Colectividade Cultural e Recreativa de
Sta Catarina, Cidadãos de Lisboa Contra A Guerra, Livraria
"Ler Devagar", Museu da República e da Resistência,
Opus Gay